Mecanismos de defesa do ego: o que são e como funcionam
Freud
é considerado o pai da psicanálise, visto que foi ele que estabeleceu seus
pressupostos. E dentro dela, existem os chamados mecanismos de defesa do ego.
Você já ouviu falar deles? Sabe o que e quais são? Como se manifestam? Quais
são as suas funções?
Compreendê-los
pode levar a um entendimento maior sobre como funciona a mente humana e, por
consequência, o nosso comportamento. Veja tudo sobre esse assunto a seguir:
Antes
de entrar em detalhes sobre os mecanismos de defesa, é preciso compreender
outro assunto, na verdade, três outros assuntos:
Ego,
Id e Superego. Consistem em três estruturas diferentes que formam a nossa
mente, como se fossem três camadas. O Ego concentra toda a parte racional, é
aquilo que mostramos aos outros em nosso comportamento diário, sendo formado
por conceitos de certo e errado, valores sociais e familiares, enfim, tudo
aquilo que aprendemos e assimilamos ao longo da vida.
O Id, por outro lado,
contêm os conteúdos mais selvagens da mente humana, violência, impulsividade,
libido, agressividade e fica no inconsciente, ou seja, não temos conhecimento e
domínio desses conteúdos. Já o Superego fica entre essas duas estruturas
anteriores e tem como principal função conter os impulsos do Id para que eles
não invadam o Ego.
Feita
essa pequena explicação, podemos entender melhor os mecanismos de defesa do
ego. Eles consistem em processos por meio dos quais o ego busca garantir a sua
própria segurança, são como se fossem defesas que visam evitar situações de
perigo, ansiedade ou até mesmo desprazer.
Para
compreender melhor, imagine uma situação: você tem um determinado problema
pessoal que está lhe causando angústia. Você tenta resolvê-lo, mas não consegue,
pelo menos não de imediato, porque ele tem uma dimensão que transcende a razão,
ou seja, não depende apenas do seu lado racional essa resolução.
O envolvimento
emocional com o problema diminui a objetividade e, por conta disso, você tenta
se adaptar a essa situação. Essa adaptação é um mecanismo de defesa do seu ego.
Leia também:
Os principais mecanismos de defesa do
ego, no total, são 15:
1. Recalque
Esse
mecanismo faz com que o ego rejeite, de maneira inconsciente, uma imagem ou uma
emoção, fazendo com que ela fique no id, longe da consciência.
Isso
acontece quando há uma exigência do id (o id é uma estrutura que quer
satisfação de seus impulsos o tempo todo), mas que é negada pelo superego,
porque vai contra a moral vigente na sociedade ou contra os princípios do
próprio indivíduo.
No
entanto, uma vez que essa imagem ou emoção é jogada para o id, não quer dizer
que ela tenha deixado de existir, apenas ficaram no inconsciente, de modo que
vão tentar vir para a consciência o tempo todo, obrigando o ego a reprimi-las.
Muitas
vezes, essa emoção consegue sair do id e ir para o ego de uma forma disfarçada,
como um sonho, por exemplo, para que ela possa ser satisfeita de alguma forma.
2. Projeção
A
projeção tem relação com o mecanismo anterior, porque também se baseia em
emoções e sentimentos que, conscientemente, uma pessoa não pode aceitar. E por
não poder aceitar, ela acaba projetando isso no outro, seja uma pessoa ou até
um objeto.
Para facilitar a compreensão, vamos ilustrar com um exemplo: uma
mulher se sente atraída por um homem que está casado por outra pessoa, mas isso
é inaceitável de acordo com as normas e valores que estão no ego dela.
Por
isso, ela projeta o sentimento no outro e começa a dizer para a sua melhor
amiga que aquele homem a está assediando.
3. Identificação projetiva
É
uma espécie de mecanismo contrário à projeção. Por meio da identificação
projetiva, uma pessoa é capaz de assimilar características comportamentais de
alguém que admira e que acaba se tornando um modelo, um espelho.
A
forma mais clássica de identificação é quando as crianças, ainda pequenas,
começam a imitar as atitudes e formas de pensar dos pais ou de quem as cria,
quando estão construindo o seu ego.
Mas
mesmo na fase adulta, quando o ego já está estruturado, a identificação
continua sendo possível. É bem comum, por exemplo, que a mulher se identifique
com a mocinha da novela que acompanha, ou que um jovem rapaz se identifique com
o seu super herói favorito. Quando é nesse sentido, a identificação pode ser
benéfica.
No
entanto, existem formas negativas, por exemplo, durante o Nazismo, quando
milhares de alemães se identificaram com aquele grupo, com aquela ideologia
destrutiva.
4. Introjeção
É
o mecanismo que faz com que um indivíduo adote regras ou comportamentos determinados
com o intuito de se proteger e se livrar de possíveis ameaças. Assim como a
identificação, ele começa ainda na infância, quando as crianças aceitam as
normas que são impostas pelos pais, mais tarde pela escola e pela sociedade em
geral.
Nem
sempre alguém aceita cumprir uma determinada ordem por acreditar que ela
realmente está correta, mas sim para evitar uma punição caso vá contra ela.
5. Regressão
Acontece
sempre que, ao se deparar com uma situação de dificuldade ou de frustração, o
indivíduo retorna, ou seja, regride a etapas do desenvolvimento pelas quais já
passou.
O choro de um adulto diante de uma adversidade pode ser encarado como
uma regressão. Ou então, quando a criança entra na escola e se vê em um
conflito com o coleguinha e acaba o mordendo, mesmo que já saiba se expressar
de outras maneiras.
6. Deslocamento
O
deslocamento está sempre relacionado a um processo de troca. A pessoa transfere
os seus sentimentos e emoções de uma entidade para outra, porque julga essa
outra menos ameaçadora. Vemos muitos casos de deslocamento por aí, normalmente
quando nos deparamos com situações em que uma pessoa parece “descontar” a sua
raiva no mais fraco.
Um
exemplo: o jovem está furioso com o seu pai por alguma razão, seja uma
proibição ou divergência, mas ele acaba agindo com grosseria com a mãe, porque
ela não o faz se sentir ameaçado.
7. Negação
Esse
é um dos mecanismos de proteção mais comuns e, ao mesmo tempo, menos
eficientes. Consiste no simples ato de negar uma situação, uma dor, um
sofrimento.
A pessoa se nega a reconhecer que está com um problema. É bastante
visto entre os dependentes químicos: a dificuldade que a maioria das famílias
tem para fazer com que o dependente inicie um tratamento é o fato de que ele
mesmo não admite que esteja com um problema e precisa de ajuda.
8. Conversão
Por
meio da conversão, um conflito de ordem psíquica ou emocional acaba sendo
transposto para o corpo. Você sente fortes dores de cabeça sempre que tem algum
problema lhe angustiando? É bem provável que esse seja o seu ego apostando na
conversão como um mecanismo de defesa.
9. Isolamento
Quando
alguém passa por uma situação traumática ou extremamente difícil e separa o
acontecimento dos sentimentos e emoções que originalmente estariam relacionados
ao ocorrido.
Por exemplo: uma pessoa perdeu o pai de uma forma muito trágica,
no entanto, consegue falar sobre o que houve sem demonstrar sequer um sinal de
tristeza.
10. Inibição
Representa-se
por um déficit, que pode ser parcial ou total, de uma função do ego.
11. Racionalização
Também
é bastante comum e caracteriza-se por uma busca de justificar racionalmente um
comportamento ou emoção que o próprio indivíduo, na realidade, julga
inaceitável.
Por exemplo, alguém que bebe excessivamente e diz que é uma
maneira de lidar com um relacionamento ruim ou com o fracasso no trabalho. É
como se a pessoa tentasse enganar a si mesma para se proteger.
12. Anulação
O
indivíduo busca meios de anular uma situação adversa simbolicamente. Muitas
vezes, essa situação foi provocada por ele mesmo e outras não.
Por exemplo, um
homem que trai a esposa e, na volta pra casa, compra flores para ela. Uma
senhora que faz o sinal da cruz quando tem algum pensamento que considera
pecaminoso.
13. Formação Reativa
Pela
formação reativa, o indivíduo reprime pensamentos e sentimentos que ele
considera inaceitáveis, adotando posturas que são absolutamente opostas.
Por
exemplo, alguém que tem interesses homossexuais em seu id, mas que acha isso
absurdo e, em sua vivência cotidiana, hostiliza todos os que têm essa
orientação sexual.
14. Fantasia
Processo
de defesa por meio do qual o indivíduo cria em sua mente uma situação que lhe
satisfaz, mas que não pode vivenciar na vida real.
Um dos exemplos é quando uma
pessoa sente desejo por alguém, mas está casado com outro. Quando tem relações
sexuais com o cônjuge, fantasia que está com aquela outra pessoa que realmente
deseja.
15. Sublimação
É
uma forma de defesa muito benéfica, quando a pessoa canaliza o impulso de algo
que aconteceu e que ela acha abominável para uma atividade construtiva.
Acontece, por exemplo, com pessoas que são vítimas do câncer e que depois que
se recuperam fundam entidades de apoio a outros pacientes.
Esses
são os principais mecanismos de defesa do ego que existem e, como você pode
perceber, são todos naturais do próprio ser humano, embora alguns sejam
benéficos e outros possam trazer prejuízos. A partir de agora, você saberá
identificar melhor a forma como reage a diferentes situações.
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